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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Os dez leprosos

 Dom Fernando Figueiredo



O que pode a adversidade ensinar-nos sobre o poder salvador do amor e da misericórdia? Quando a adversidade nos sobrevém, descobrimos de fato quem é nosso irmão, irmã e amigo. Jesus caminha para Jerusalém cujo objetivo é a definitiva efusão do Espírito Santo e o acesso ao Reino para todos os homens. A característica desta orientação “religiosa” da viagem é a atitude de Jesus para com os Samaritanos, que não eram bem vistos pelos judeus. Se eles recusam recebê-lO, Jesus não os rejeita. Pelo contrário, como na parábola do bom samaritano, ele lança um forte apelo à conversão, destacando que, dos dez leprosos, é justamente o “pagão”, o samaritano, que volta para agradecer.

O título de Mestre que os dez dão a Jesus é surpreendente, pois é pronunciado por pessoas que estão fora do círculo dos discípulos. Sugere-nos também algo mais, assinalado justamente pelos Santos Padres. Os leprosos exprimem o mal físico, mas muito mais o sofrimento de serem “ovelhas sem pastor”. Por isso, antes de se sentirem curados e purificados, eles são convidados a se mostrar ao sacerdote. No percurso, eles são curados. Neste sentido, s. Cirilo de Alexandria observa que “eles foram dar testemunho aos sacerdotes, os guias dos judeus, sempre invejosos da sua glória. De modo maravilhoso e acima de suas esperanças, eles testemunham o fato de terem sido livres da sua desgraça e sido curados pelo querer de Cristo”. Embora todos tenham sido curados, só um volta e este era samaritano. Ele vem “glorificando a Deus em alta voz” e ao chegar “lançou-se aos pés de Jesus”, em sinal de adoração. “Os outros pensavam, comenta s. Atanásio, muito mais na sua cura da lepra e não em quem os tinha curado. Mas aquele que voltou agradecido recebe muito mais do que a cura, pois o Senhor diz: “Levanta-te e vai; a tua fé te curou”. Por isso, conclui s. Atanásio, “o Apóstolo Paulo exortou a todos dizendo: “Glorificai a Deus no vosso coração” (1Cor 6,20). Também Isaías recomendou: “Rendei glória a Deus (Is 42, 12)”. 

Os dez foram curados, o samaritano, porém, nos ensina que a fé deve se exteriorizar no louvor ao dom de Deus. A fé é também colocar-se a caminho: “Levanta-te e vai”. O samaritano assume o caminho do seguimento de Jesus e de sua Palavra. Também nós, na medida em que perfazermos este caminho, iremos nos purificando da lepra do pecado, do erro e da maldade. Resplandecerá sempre mais em nós a vida nova recebida do Senhor. 

Senhor, que eu jamais deixe de reconhecer vosso amor e misericórdia. Enchei meu coração de gratidão e agradecimento e livrai-me do orgulho, descontentamento e ingratidão. Ajudai-me a acolher as bênçãos divinas com gratidão e dar graças em todas as circunstâncias”.